quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A dimensão humana do ambiente


Por Alberto Kirilauskas

Estamos vivos. Tal afirmação pode aparentar inútil para aqueles que pensaram um pouco sobre a própria vida humana. Todavia, não me parece inútil dizê-la no mundo contemporâneo. A nossa acelerada sociedade tem atropelado muitas coisas, dentre elas a própria vida das pessoas que a compõe. Com a mudança das nossas relações com o tempo e espaço; com uma técnica pela técnica, excluindo muitas vezes a dimensão vida, temos a era da modernidade atual e seus efeitos.
O vídeo / animação abaixo nos proporciona um mergulho profundo na dimensão humana do ambiente.

 “(...)qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...” (Belchior)


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A contribuição da arte para a sustentabilidade

Por Alberto Kirilauskas

"A arte tem assumido, no decurso da história, muitas formas e dito muitas coisas. Mas, ao contrário da técnica, que se preocupa fundamentalmente com o alargamento do poder humano, a arte é essencialmente uma expressão de amor, sob todas as suas formas, desde a erótica até a social." Lewis Mumford (1952)

É essa expressão do humano, daquilo que o traz angústia ou alegria, que contribui para a sustentabilidade. É o reflexo da realidade e a reflexão sobre a mesma. O relato do fato e novos possíveis fatos que nascem da mistura entre o interior e o exterior. É a interação humano e ambiente, descrevendo-o, ou propondo novas possibilidades.

Carlos Drummond é uma dessas pessoas que contribui para a sustentabilidade. A expressão em seus versos e prosa nos permite imergir em locais muitas vezes inexplorados.

Sentimental
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Estás sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando…
E há em todas as consciências, um cartaz amarelo:
“Nesse país é proibido sonhar.” - Carlos Drummond de Andrade



Compartilho um vídeo que traz alguns dizeres do Drummond.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

IX SIGA - Seminário para Interação em Gestão Ambiental


A Comissão Organizadora do IX SIGA gostaria de comunicar a todos que o tema para o IX Seminário para Interação em Gestão Ambiental será "Gestão do Ambiente Urbano", tema escolhido pela maioria em nossa enquete que ficou disponível neste blog.

O evento será nos dias 4, 5 e 6 de maio de 2012 no campus Piracicaba da Universidade de São Paulo - ESALQ/USP.

Agrademos o apoio recebido e contamos com a presença de todos no evento do ano que vem. Queremos que ele seja o melhor de todos e já estamos trabalhando nisso.

Para aqueles interessados em participar da Comissão, entrar em contato com a Ligia, pelo email: ligiabed@uol.com.br. Todos serão bem vindos.
Nos vemos no próximo evento.

Comissão Organizadora do IX SIGA

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entrevista com Rubem Alves

Por Alberto Kirilauskas

Compartilho novamente reflexões do educador Rubem Alves. Desta vez ele foi entrevistado pelo Antônio Abujanra no programa Provocações da TV Cultura.
Diversos temas foram abordados com o que considero a "simples profundidade de um aforismo". Ele que escreveu em seu livro Na morada das palavras "Sou psicanalista. E tenho fé. E não tenho de cometer nenhum suicídio intelectual para que elas convivam dentro de mim." Numa frase simples está contido o que é posto como conflitante por muitos e explicitado de forma clara, provocando todos aqueles que buscam encarar uma face como se fosse a única. Assim, a simplicidade muitas vezes se faz necessária para que enxerguemos as raízes das coisas. Boa entrevista.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Construir povos

Por Alberto Kirilauskas

Segue um texto do Rubem Alves contido no livro Conversas sobre Política que fala sobre a inauguração de povos. Nietzsche disse que "...o mundo gira, não ao redor dos inventores de estrondos novos, mas à roda dos inventores de valores novos: gira sem ruído...".Acredito que as palavras do Nietzsche dialogam com as do Rubem Alves. Desconfio que quando a imagem/status está acima da utopia devemos parar e rever se realmente desejamos seguir por esse caminho já pisado por tantos nesse mundo contemporâneo. Boa leitura.

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Construir povos

Não me recordo de nenhuma obra que Gandhi tenha ianugurado. Mas me lembro bem de outros gestos seus. Como uma longa caminhada que fez rumo ao mar, quando tinha 61 anos de idade. Mais de quatrocentos quilômetros, 24 dias, 18 quilômetros por dia. Para quê? A Inglaterra, potência colonial dominadora, proibira que os indianos possuíssem qualquer sal que não lhes tivesse sido vendido pelo monopólio governamental inglês. Gandhi resolveu caminhar até o mar para ali transgredir a vontade dos dominadores: tomar nas mãos o sal que o mar e o sol haviam colocado sobre as rochas. Gesto mínimo, fraco, que não seria marcado por nenhuma fita cortada nem por nenhuma placa de bronze. Há situações em que a quebra da lei é a única forma de se ser íntegra. Bem que poderia ter ido em lombo de animal ou em vagão de trem. Seria mais rápido, mais cômodo. Os políticos que se prezam têm horror a lentidão. Por isso se concedem atributos divinos de onipresença: agora estão aqui, mas num abrir de olhos estão ali. Voam pelos espaços para se fazer ver e inaugurar...Gandhi pensava diferente. Sabia que a vida cresce devagar.
Mundos melhores não se fazem; eles nascem...
(E.E. Cummings)
Não queria inaugurar coisa alguma. Queria gerar um povo. E isso leva tempo, como uma gravidez. Era preciso que a caminhada demorasse, para que as pessoas caminhassem com ele e, com ele, sonhassem. E, enquanto ele ia, crescia, na alma do seu povo, o sonho...
Também não me recordo de nenhuma obra que Martin Luther King Jr. Tenha inaugurado. Mas me lembro do seu rosto sereno por fora, amedrontado por dentro. Quem não teria medo do ódio dos brancos? Marchava de mãos vazias, mãos dadas e, qual num poema, seu refrão se repetia: “Eu tenho um sonho”. Queria também gerar um povo e sabia que um povo acontece quando as pessoas se dão as mãos, em busca de um sonho comum. “Eu tenho um sonho.” Era o sonho de um povo que se formava, lagarta que saía do casulo, para voar como borboleta. Eram palavras mágicas que evocavam esperanças esquecidas e invocavam utopias de um mundo novo. Não inaugurou obras. Pois sabia que, antes delas, é preciso que haja um povo.
Pensei, então que já dois tipos de políticos:
· os que se oferecem aos olhos do povo;
· e os que oferecem novos olhos ao povo.
Os primeiros ficam cada vez mais visíveis. Suas imagens produzidas-polidas-ensaiadas aparecem nos jornais, nos cartazes, na TV, como a madrasta da Branca de Neve, não se cansam de perguntar: “ Espelho, espelho meu, haverá neste país político mais bonito que eu?” E fazem promessas, e inauguram obras, e se proclamam como aqueles que têm o poder de transformar os desejos do povo em realidade. “Tudo isto será teu”, disse o Diabo ao Filho de Deus, “se prostrado me adorares...” E assim, pela sedução das coisas que se dão, as pessoas se cendem por preço baixo. Como na estória bíblica, troca-se a dignidade de se ser filho por um prato de ervilhas. E o povo, então, fica fraco, pedinte, agradecido. Em resumo: eleitorado fiel.
Mas os líderes que inauguram povos são de outro tipo. Vão ficando, progressivamente, invisíveis. Como na tela de Salvador Dalí, A última ceia. O cenário é vítreo e se abre para as montanhas, para os mares, para o futuro. O próprio Filho de Deus está em via de desaparecer, transparente, para que através de sua invisibilidade o mundo inteiro possa ser visto. Assim são os líderes que inauguram povos. Sabem que o que importa não é que sejam vistos pelo povo, mas que o povo possa ter um mundo novo através deles. Não se preocupam com a admiração narcísica de sua imagem. Mas desejam muito que o povo aprenda a admirar horizontes novos para onde caminhar.
Mas os inauguradores de obras, por não sonharem os sonhos do povo, em cada obra que inauguram, inauguram-se a si mesmos – e tratam de gravar-se em placas de metal pois sabem que, se não fosse o bronze, seriam logo esquecidos.
Tento descobrir transparências nos rostos políticos. Porgunto-me sobre os sonhos que eles me fazem sonhar. Mas só tenho pesadelos: rostos opacos que obstruem horizontes.
E assim, fico à espera: quando o rosto, e o corpo, e os gestos, e as cicatrizes de batalhas passadas me fizerem sorrir, sentirei que posso confiar. Por quanto tempo esperarei? Não sei...